Não tinha televisão nem telefone.
Nas noites de lua cheia e muito calor os adultos colocavam as cadeiras de vime da varanda da frente no passeio do jardim.
As crianças, nos sentávamos na escadaria e corríamos pelo gramado. Gramado de "grama branca"! LINDO! Nunca vi daquela grama em lugar nenhum...
Corríamos em volta do "planetário" e da estrela de 5 pontas... isso foi obra de um jardineiro maluquete de Vovô (como sempre) acolheu na Fazenda.
Era assim. Qualquer um que aparecia pedindo pouso, Vovô logo dava um jeito de arranjar-lhes um serviço.
Ao lado do armazém havia um alojamento denominado "quarto dos candangos" (alusão aos bravos peões que construiram Brasília) e era lá onde os empregados que não tinham esposa e filhos se acomodavam. Havia um banheiro do lado de fora, bem perto da casinha de doces e as refeições eram feitas na cozinha da Fazenda.
Adorávamos ficar olhando os empregados comerem. Eles comiam com muita fartura. As marmitas de alumínio muito bem areadas eram entregues a cada um deles, sem tampa, com o conteúdo transbordando. Eles se sentavam na escadaria da cozinha e ali comiam e conversavam. Nos sentávamos ali para participar da conversa e observar a maneira como eles comiam para que à noite, na hora do jantar, sentados na mesa da copa, pudéssemos "remedá-los".
Era muito divertido, aliás, era estupendo!
Coisa de criança que os adultos jamais poderiam saber. Fomos educados para tratar a todos com respeito e dignidade e "remedar" alguém não era correto... mas, adorávamos fazer isso. Aliás, "remedávamos" todo mundo!
Mas era no jardim, sob o doce olhar da lua, que cantávamos:
"Lá vem a lua saindo
com três estrelas do lado.
A primeira vem dizendo
que "fulana" tem namorado!
Ela ama a letra "...."
e por ele tem a paixão,
O nome que ela mais escreve
é "fulano" do seu coração!"
Era uma risadaria só. Risada baixa, pois a essa hora Vovô já tinha ido para o quarto e não gostava de ser incomodado.
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